DO OUTRO LADO





Outro dia,estava eu no vestiário da academia quando deparei-me com uma situação de fato corriqueira mas que fez-me pensar um pouco.
 Estava aguardando a saída de um grupo da natação para poder entrar e iniciar o meu treino,quando observei uma criança que estava tão empolgada com a aula que não queria sair da piscina.A professora exaustivamente tentou convencer a criança a sair da água sem sucesso.A acompanhante da criança foi obrigada a adentrar a área da piscina e após isso abaixou-se à altura da criança olhando bem em seus olhos e falou duramente com a mesma para que isso não mais se repetisse dando os seus motivos os quais eram bem plausíveis,além do fato de haver pessoas no vestiário esperando sua vez de entrar.
 Acontece que nós mulheres que estávamos no vestiário,começamos a olhar para a "vilã" morrendo de pena da pobre criança que ficou com aquela carinha de desolação.Até eu,que não sou tão mole com a minha filha,pensei:"Nossa...coitadinha da menina!!!" e por mais que a mulher estivesse certa e todos os seus argumentos fossem lógicos(foi difícil não prestar atenção) ficamos todas comovidas.
 Após a criança entrar no banho em lágrimas,caí na realidade e lembrei que já estive na mesma situação...quantas vezes a Rafaela já teimou comigo em shoppings,lojas,supermercados dentre outros lugares e já precisei agir da mesma forma que aquela mulher agiu.Falando lentamente, olhando nos olhos e sem ceder àquela carinha de coitadinha e com pessoas ao redor olhando-me como se eu fosse um monstro:"Coitada da menina...por que esta mãe não a deixa comer todos os doces do supermercado antes de passar no caixa???Qual o problema dela fazer isso...é uma criança!"
 Aí vi o como é fácil estar do outro lado...como é fácil julgar as pessoas sem saber do contexto.Como é difícil dizer não e ensinar o certo pois às vezes ceder acaba sendo mais rápido e contenta todo mundo ao redor.Mas as consequências ficam.Com criança,se você cede uma vez,será mais difícil dizer não na próxima.Como já disse anteriormente,achar o equilíbrio entre o SIM e o NÃO, não é tarefa fácil e cada dia é um aprendizado.Não dá para ser radical demais pois são crianças,mas também não dá para abrir concessões em algumas situações,pois embora pequenos,sabem bem como chamar a atenção das pessoas para si e deixar-nos numa situação bem constrangedora.
 Procuro aprender muito com minha mãe que além de educadora,criou sete filhos e confesso que ela nunca precisou me bater.Sua firmeza sempre ensinou-me onde era o meu lugar e nunca deixei de respeitá-la,até os dias de hoje.
 Hoje há leis rigorosas quanto à educação dos filhos.Há vertentes radicais que acham que não devemos sequer repreendê-los e isso ao meu ver é bastante perigoso.É claro que leis são criadas para reprimir abusos.Como pediatra,vejo coisas horríveis que fazem com crianças.Maus tratos é um capítulo à parte a ser discutido.Nem mesmo precisa ser pediatra para saber isso.É só ligar a televisão que nos deparamos com maus tratos por parte de pais,mães, babás,professoras e certamente isso é repulsivo e exige punição,pois é crime.Seja mau trato à criança,idoso,animal,deficiente seja contra quem for:é crime.
 Mas minha abordagem diz respeito à correção necessária,ao NÃO na hora certa e na medida certa.Precisa haver limite sim e este limite precisa partir do adulto.Dói demais em nós ver algumas lagriminhas agora,mas educar é plantar uma semente para ver crescer alguém ético e respeitador.O famoso "jeitinho brasileiro" muitas vezes pode ser nocivo criando uma sociedade tal como vemos hoje,totalmente sem limites.
 Admito que sou uma mãe brincalhona com meu lado criança ainda bem aflorado.Brinco quando tem que brincar,amo pular na cama e fazer guerra de travesseiros.Deito e rolo no chão como criança e às vezes fico dançando em frente à TV com a Rafaela as músicas de roda que ela curte. Amo demais a minha filha e gosto de vê-la feliz.Dedico o tempo que eu tenho com ela para ter o melhor tempo de qualidade possível,mas ainda assim tento mostrar que além de amiga eu sou mãe existe hora de brincar e hora de obedecer e assim a hierarquia não deixa de existir.Cometo erros?Claro que sim...afinal estou aprendendo sempre.Dona da verdade eu não sou mesmo.Tento minimizar os erros,mas claro que como todo ser humano ,estou sujeita a errar.
 E voltando à história do vestiário da natação,aquela mulher que foi firme com a menina ao mesmo tempo demonstrou muito carinho por ela.Fui surpreendida então ao saber que ela não era a mãe e sim a cuidadora da menina, a qual tinha uns 12 anos e era "especial",portadora da Síndrome de Down,o que não a impediu de ter o pleno entendimento do certo e errado naquele momento.
 Acabado o banho da menina,ela já estava sorrindo e ficou feliz quando a parabenizei pois eu a havia visto de longe nadar.Sem qualquer trauma.

           "Discipline seu filho,e este lhe dará paz;
            trará grande prazer à sua alma"
                                      Provérbios 29:17


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