NÃO DÓI MAIS!


  Incrível como algumas coisas que doem tanto em certo momento da vida,passam e ficam apenas na memória.
  Há um tempo atrás postei sobre desavenças que nossos filhos passam em suas vidas e o quanto dói em nós (Dói mais em mim-Março de 2011).
 No ano passado,primeiro ano em que a Rafaela minha filha frequentou a escola,as crianças de sua convivência tinham em média dois anos de idade e viveram a difícil fase da adaptação envolvendo várias disputas nas quais de vez em quando saía alguma criança mordida,beliscada,etc.E a Rafaela não saiu ilesa desta fase.A primeira mordida:no rosto.Desastre para mim!!!Ao olhar para ela por vários dias enxergava a marca dos dentinhos do amigo.Para ela,a mordida só doeu na hora enquanto que em mim doeu até sumir totalmente e um pouquinho mais.
 Como eu disse,eles estavam vivendo a fase de adaptação o que vinha gerando muitos atritos e como este foi o primeiro atrito que deixara uma marca,todas as mães da classe ficaram penalizadas e vinham todos os dias me perguntar quem seria o "autor" de tamanha arte.A primeira a vir me perguntar foi justamente a mãe da criança que mordera (que situação!) e que por sinal,era uma das primeiras mães com quem eu havia feito amizade nos primeiros dias de aula e com quem encontrara imensa afinidade-o que tenho até hoje.
 Ao abordar-me,a mãe do amigo insistia comigo que eu tinha que saber quem era a criança que o fizera e que a escola tinha que falar com os pais.Ela não sabia que eu já sabia e que era o seu filhinho!!! 
 Fiquei em uma situação bem estreita e não sabia o que dizer mais a ela.Mas parece que mãe sempre sabe das coisas.Um dia subitamente eu a encontrei na porta da classe na hora de buscarmos nossas crianças e ela veio falar comigo.Perguntou-me se havia sido seu filho,mas parece que já sabia a resposta.Afirmei que sim,ela abraçou-me e choramos juntas.Ela disse que desde o início já desconfiava e pediu-me perdão.Acho que é este tal de instinto materno,não sei.Sei que foi um momento único,em que a empatia que eu já tinha com aquela mãe,passou a ser ainda maior.Eu entendi que tudo fazia parte de uma disputa entre eles e que para eles tudo já estava resolvido há muito tempo,nós é que estávamos preocupadas.
 Na ocasião tudo aquilo foi para mim o "fim do mundo".Passei semanas angustiada,conversei com minhas irmãs que são pedagogas,passei por aconselhamento com a coordenadora pedagógica da escola várias semanas e o tempo foi passando,o ano letivo foi correndo e com ele mais duas mordidas apareceram,lágrimas correram e hoje...já não dói mais em mim também.
 As crianças continuam fazendo arte.Este ano,brincando de "cabeleireira de verdade",uma amiguinha cortou os cabelos da Rafaela e seus próprios cabelos e fiquei também bem abalada e nervosa...e passou,o cabelo está crescendo e todos,inclusive eu,sobreviveram.
 Estou mais controlada da minha fúria e da super proteção que vinha me consumindo.Estou aprendendo a ser mais "light" e não levar as coisas tão a sério.Conversando com outras mães e com cabeleireiros descobri o quanto é comum crianças quererem ser " mestre da tesoura".E cabelo cresce,mordida sara e nós também nos recuperamos,caso contrário,infartaríamos diariamente.
 Em uma das minhas (ótimas) conversas com a coordenadora pedagógica da escola,a mesma sugeriu-me tirar uma foto da Rafaela com o cabelo acidentalmente cortado.Estava torto,estranho,despontado mas fotografei para um dia lembrar e dar risada.Se eu tivesse fotografado a marca da mordida,hoje poderia olhar sem ressentimentos.Se foi fácil tirar a foto?Nem um pouco.Mas acatei a sugestão e sei que até este passo de conseguir tirar a foto foi uma evolução e prova de que já não dói tanto.
 E as crianças???Grandes amigos.A mãe do amiguinho da mordida brinca que foi "Amor à primeira mordida" e com a mãe da "cabeleireira" também brinco,já dou risada sem mágoa alguma.Assim é a vida,e certamente novas provações virão,mas é melhor viver um dia de cada vez.

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