LÁGRIMAS NO METRÔ

 Hoje saí de casa cedo para participar do terceiro e último dia do curso de atualização em Pediatria da Escola Paulista de Medicina.
  Deixei a Rafaela em casa com o pai e quando saí ela ainda estava dormindo.
  Decidi ir para o curso de metrô,uma vez que ontem levei quase duas horas  para chegar lá de carro,tamanho o trânsito.Tive uma dificuldade imensa para estacionar o carro e perdi uma aula bem importante.
  A ideia também, era que indo eu de metrô, já estaria em São Paulo para após o curso, darmos um passeio para ver enfeites de Natal no Shopping Higienópolis.O Welson e a Rafaela  iriam me buscar no curso e de lá seguiríamos o roteiro.Como eu já percebi em outras ocasiões,o roteiro às vezes muda totalmente quando temos filhos.E assim foi,mais uma vez.
  Liguei para o Welson no intervalo entre as palestras para saber se estava tudo certo,quando então me avisa que a Rafaela estava vomitando novamente...após uma longa semana,um quadro clínico que parecia estar se estabilizando,mas se arrastou,tirando-nos noites de sono,regadas a tosse,choro e colo.A vida porém, parecia  estar voltando ao normal.Nem tanto.
  Sem qualquer poder de concentração para assistir a última palestra,deixei o curso com um "nó na garganta".Não por perder uma aula,nem por ter mais um passeio cancelado,mas por saber que a minha pequena que parecia estar melhor,voltara a ter sintomas:vômitos pós tosse.Aquele quadro de resfriado da semana anterior,evoluiu com episódios de tosse,estes levando a inúmeros vômitos com consequente perda de mais de um kilo em uma semana!!!Angustiante situação para uma mãe,não???
  Diante de uma criança agudamente enferma que perde peso,sempre como qualquer outro médico,falo com propriedade para a mãe que seu filho vai recuperar o peso,e tenho certeza que a minha também recuperará,mas isso não evitou que eu voltasse para casa hoje arrasada.Coloquei óculos de sol para andar na Avenida Paulista e entrar no metrô,pois meus olhos marejavam de pensar na minha criança tossindo,vomitando e perdendo mais peso.Dramático?Talvez sim,mas o que posso fazer?Sou humana e um estranho ser chamado mãe tomou conta de mim!!!
  Ao esperar o metrô,fiz o máximo que pude para reprimir o meu choro.Mandei torpedo para alguns amigos queridos pedindo por orações.
  Antes da chegada do metrô,eu refletia o porquê de tudo aquilo estar acontecendo quando três adolescentes pararam próximo a mim e começaram conversar entre si.Meus pensamentos,até então estavam bem longe de tudo o que elas falavam quando de repente ,percebi que falavam sobre Deus e no meio de tudo o que diziam uma frase pronunciada por uma delas sobressaltou no meio de todo aquele barulho urbano:"Os pensamentos de Deus são mais altos que o nosso!"
  Epa!!!Era comigo???Intencionalmente não da parte da moça,mas veio direto para o meu coração e comecei a chorar baixinho.Falaria Deus comigo na estação do metrô?Olharia Deus para uma mãe com preocupações aparentemente tão pequenas diante da fome do mundo e de tantos outros problemas?Tsunamis,terremotos,desabamentos,etc e eu chorando por uns kilos perdidos,umas noites mal dormidas...É,mas para Ele minhas angústias importam.Sejam minúsculas ou imensas.Nesta manhã de sábado Ele se importou comigo e mandou um recado por alguém.
  Entrei no vagão do metrô com meu íntimo contrito.Sentei e comecei a pensar em o que Deus queria "dizer"com aquilo,quando então veio ao meu coração lembranças passadas de quando Deus preservou a vida da Rafaela em situações muito piores,mais arriscadas.Quando Ele a guardou quando era ainda substância sem forma em meu interior(vide postagens sobre a gravidez), e aquilo foi me confortando e vi que realmente nossos pensamentos são bem menores que os dele.Não conseguimos compreender seus intentos,seus planos.Ele é infinitamente maior e Ele sabe os porquês.A nós,cabe crer... render-nos e deixar de lado nossos milhões de argumentos, nossas razões e saber que de alguma forma tudo coopera para o nosso bem.
  Voltei para casa e chorei tudo o que eu havia segurado.Minha pequena, me recebeu com um abraço.Estável,embora magrinha e abatida.
  Creio que os meus amigos citados acima, para quem mandei torpedos pedindo ajuda,já estavam diante do Trono do Pai e Ele certamente ouviu suas orações trazendo cura física a uma criança e cura emocional para uma mãe.
  Que experiência!